Antissemitismo estrutural americano: o velho ódio nunca esquecido

Palavras sem precedentes faladas a plenos pulmões, do rio ao mar, ou from the river to the sea, são faladas pelos americanos nas universidades de Harvard, Berkeley e MIT, onde graça o conceito como se fosse um slogan de “Black Friday” contra os judeus. Houve reação a tal descalabro, de tão absurdo, chamando dirigentes ao Congresso dos EUA, centro do poder democrático e símbolo do mundo liberal. Não obstante, seus dirigentes foram ao Congresso e disseram a quem quisesse ouvir que a retórica antissemita não é antissemitismo, a não ser que vá para a ação, para a real conduta. De fato, assim sendo, só poderia haver condenação, se novo genocídio houvesse.

Causa total espanto tais renomadas instituições serem albergue de antissemitas contumazes que expõem seu preconceito abertamente, e aceitarem nos seus muros o discurso do genocídio total aos judeus e ao povo de Israel, de aproximadamente 9 milhões de pessoas. Ou seja, pregando um novo holocausto, uma vez que a expressão “do rio ao mar” significa expulsar judeus, cristãos e árabes israelenses da terra e das fronteiras de Israel, do Rio Jordão, e jogar sua população no mar mediterrâneo: um morticínio generalizado. Sim, um novo holocausto. E as citadas universidades americanas não entenderam que deveriam condenar seus alunos que pregam a morte de judeus e a propaganda antissemita mortífera nos seus campi. Não dá para adjetivar de outra forma a atitude asquerosa, nefasta e assassina desses reitores e diretores universitários. Eles são, no meu pensar, pseudointelectuais que relativizam as questões humanas, como se o ódio aos judeus não fosse questão civilizatória.

Mas parece que judeus não podem reclamar ou se insubordinar, mesmo quando abusados, ofendidos e violados, uma vez que são tidos como os piores do mundo, ou são financistas, ou são comunistas, ou são assassinos de deus e por aí vai. O velho preconceito. Ou seja, “todas as vidas importam, MENOS AS VIDAS JUDIAS”. Ou ainda, “parem o genocídio, A MENOS QUE SEJA DE JUDEUS”.

Como brasileiro judeu, filho e neto de pessoas que fugiram de seus lares apenas por serem judeus, tenho horror, calafrios, tremores e repulsa de ver isso acontecendo hoje no lugar de onde deveriam sair ideias humanistas, inéditas e modernas, quando são palco da vetusta civilização que instila ódio e não evolui. Como explicar para uma criança judia ou negra que lhe detestam apenas por existirem e serem o que são? Como explicar para uma criança isso nos dias de hoje?

Nós, judeus, temos a eterna tarefa, já histórica, de justificar nossa existência, explicar que não somos maus. Temos a absurda missão de explicar para o mundo as razōes pelas quais não devemos ser massacrados ou termos nossas famílias sequestradas, aviltadas, agredidas e ofendidas. Temos que justificar nossa vida. Ou ainda, nesse show de horrores, em vista das inúmeras publicações nazistas e negacionistas do nazismo, que um dos maiores assassinos do mundo, Hitler, estava errado de nos matar industrialmente.

A realidade é que a propaganda de Goebbels fez com que muitos alemães considerassem os judeus problemas do mundo e fechassem seus olhos para a humanidades e aceitassem com naturalidade a matança nazista, como se judeus não fossem seres humanos. E é a isso que estamos assistindo hoje em solo americano. Atualmente, americanos estão cozinhando o antissemitismo, cujo produto nós conhecemos e o resultado também.

Judeus no mundo são poucos. Somos um grupo heterogêneo, fracionado, com diversas formas de expressão judaicas e menos de 18 milhões de pessoas. E como disse Ben Israeli: “o judaísmo é mãe do cristianismo, avó do islamismo, espancada pelo filho e pelo neto”. E mesmo todos sabendo disso de alguma forma, não há parada pelo ódio que vem se perpetuando.

A verdade é que o ódio ou a aversão aos judeus, ou antissemitismo, mostra apenas que a civilização pouco avança nas suas incongruências e ataca não só os judeus, mas a humanidade, já que o que se busca é, numa sociedade de desesperançados, achar um bode expiatório e, de maneira simplista, encontrar um culpado pelas mazelas do mundo. A situação se agrava num conflito como o atual, à medida que a propagando “árabe” contra os judeus é praticada por 1,7 bilhões de árabes – ou seja, aproximadamente 20% da população mundial. Contra os judeus são menos de 0,01% da população do mundo, e a desproporção é total. Um verdadeiro David contra Golias. Assim como o mundo árabe praticamente está na África inteira e em todo o oriente médio, enquanto os judeus têm apenas um lar nacional no mundo, num Estado do tamanho do brasileiro Sergipe.

Já que preciso dizer para que não me matem, e no afã de justificar nossa existência, encerro numa picardia verdadeira este texto dizendo que cinco judeus mudaram a face da história:

Primeiro, Moisés: tudo era a mente, com monoteísmo e adoração a um Deus apenas;

Segundo, Jesus Cristo: judeu e rabino, ao dizer que tudo era coração e amor;

Terceiro, Karl Max: tudo é matéria e estômago;

Quarto, Sigmund Freud: tudo é sexo.

Quinto, Albert Einstein: tudo é relativo… mente, coração, estômago e sexo.

A realidade é que não somos melhores ou piores que ninguém, apenas um povo peculiar que se mantém uniforme há 3500 anos, como uma teimosia histórica, mesmo sendo constantemente hostilizado. Mas como em qualquer generalização, sempre se cometerá injustiças. Não há povo totalmente bom ou ruim, há sim pessoas. E todas merecem respeito!

Nilton Serson.

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